terça-feira, 16 de março de 2010

(Comecei jogando a primeira pergunta e pedi pra que ela esquecesse o gravador.)

O que é o amor?
Que medo dessa pergunta! Você já começa assim jogando essa bomba pra mim?! Não sei se sei definir o amor, é uma coisa muito forte e muito complexa pra ser definida, talvez seja o sentimento de... ai Deus do céu, não sei... de dar a vida por alguma coisa, por alguém.

Você tem algum conhecimento sobre os tipos de amor?
Creio que tenho.

Quais?
Amor de amigo, de irmão, de pai, de mãe...

Sem classificações teóricas, certo?.
É.

Quais os tipos de amor você já sentiu?
Amor de pai e mãe. Amor de irmão, por meu irmão, e esse eu acho que é o maior amor...
(Mais do que o de pai e mãe? Talvez, porque quando eu penso na hipótese de meus pais morrem, logo penso, e meu irmão, como ficaria? Por ele eu faria tudo, sabe?)

...amor de amigo e lógico, amor “enamorado” que é o mais complexo pra mim.

Algum já doeu?
Muito. ( E fez aquela cara de: e você sabe o quanto!)

Qual?
O enamorado

(sorrisos, cervejas e mais sorrisos.)

Como era essa dor?
A dor de não ser correspondido.

Mas o que você sentia?
Às vezes raiva, porque eu era capaz de tanto por esse amor e não recebia nada de volta, às vezes muitos ciúmes por saber que o meu amor sentia amor por outras pessoas e às vezes um carinho, um cuidado muito grande.

Essa dor já chegou a ser uma dor física, como a que você me falou sentir no dia na missa de Marina, lembra? E que eu aprendi a perceber depois desse dia. É isso que eu quero saber. Não das coisas a que essa dor te leva. Porque você falou de raiva, ciúmes, mas aí acredito que já são as conseqüências a que essa dor te levou.
Ah, dói, dói muito. Dói, aperta. É uma bala de raspão que passa pelo coração que não penetra, mas fere muito, sabe?

E qual foi o melhor amor de sentir?
O amor de amigo. O amor pelos meus amigos é o que me deixa mais feliz.

É!? (fiquei surpresa, porque pra mim tudo de bom que venho vivendo com AMIGOS é ainda muito novo, antes só com os “amigos” eu me sentia sozinha. Essa distinção na grafia da palavra amigo, faço de acordo com a classificação para as amizades que considero verdadeiras.)
É.

E qual foi o melhor momento que o amor já lhe proporcionou? Qual a coisa mais importante que o sentimento que você toma por amor já lhe proporcionou?
Isso é difícil, menina, sei não. Eu tenho muitos momentos. Os momentos com os meus amigos. Aqueles momentos, mesmo, que tu fica bem tabacuda dizendo “ah, isso é tão lindo”. Tem também os momentos com meu irmão e com minha mãe, com a minha família eu fico muito, muito, muito feliz, pelo amor que a gente tem um pelo outro, mas ainda não existe um único momento.
(entre um gole e outro ela pensa e continua)
Eu não posso dizer que foi o nascimento do meu irmão, porque eu tava morrendo de ciúmes e não fui capaz de sentir outra coisa e pensava, Isaac nasceu. Grande coisa!
Ah, talvez tenha sido num dia em que o segurei pela primeira vez enquanto minha mãe tomava banho. Ele tinha uns dois meses, talvez. Ele era bem molinho, bem pequenininho, e eu fiquei um tempão segurando, sem saber segurar, toda dura e ele dormindo. Aí eu achei a coisa mais linda e então comecei a ficar mais molinha.
Mas mesmo assim eu ainda não sei se foi O momento, continuo achando que ainda não houve, sabe?

(-Rossi, mais uma, por favor.)

Me diz então como o amor seria se fosse uma obra arquitetônica. (acredito que todo mundo tem um amor por alguma coisa, não por outro ser humano, por que aí surgem muitos tipos, mas por outra coisa, talvez um amor “concreto”, e eu acho que esse é o seu, a arquitetura.)
É bem verdade. Mas tem que ser uma obra, ou pode ser um conjunto de obras?
Como quiser, fique a vontade.
Hum! Museu dos judeus, em Berlim! Acho, do caralho um arquiteto conseguir ter uma compaixão, um amor, por uma cultura, por um povo tão grande, e expressar tudo isso na arquitetura de uma forma tão intensa.
(lembra e descreve o lugar) São corredores... é um lugar altamente claustrofóbico, que faz você se sentir mal. Mas essa é exatamente a intenção do lugar. Fazer você se sentir como eles (os judeus) se sentiram na época da segunda guerra. Existem corredores que saem vigas, umas coisas em sua direção, como se fossem lhe agredir. Tem uma câmara que é completamente escura. Você entra e fica completamente no escuro, completamente desolado. Também um quarto onde o pé direito é bem alto, e você vê uma luz. É uma coisa fora do normal! Eu acho foda isso, sabe? De a arquitetura poder trazer pra você sensações que você não sabe nem que é ela que tá lhe trazendo isso, mas é ela sim!
E foi o amor daquele arquiteto judeu, pela cultura dele, que o permitiu conseguir conceber uma obra daquela magnitude. Nenhum outro arquiteto conseguiria fazer isso. Você tem que ter muito amor por uma coisa que você acredita, pra poder conseguir fazer uma coisa daquelas. Pra fazer com que outras pessoas, que não tem o mesmo amor que você tem por aquilo, sentirem o mesmo.
É muito foda! Eu sou louca pra conhecer, porque fotos eu já tenho mil . Mas preciso entrar, pegar, sentir, experimentar a arquitetura. Porque arquitetura pra mim é isso.

(pausa. Cervejas, petiscos, cervejas...)

E aí, você está gostando de falar sobre o amor?
Sim. Sou tão cheia de teoria que estou gostando.

Já fez isso antes?
Não.

(Falamos um pouco sobre o que acreditamos ser a coisa mais importante e ela falou que apesar de ser bem clichê, acredita que seja mesmo o amor. Fala novamente sobre o amor que têm pelos amigos, pela profissão, sobre as relações de amizades que seus pais não tem, e que por isso o veem como uma boa amiga. E pra terminar, volto ao começo.)

E então, o que é o amor?
De todas, essa continua sendo a pergunta mais difícil, porque continuo sem saber definir com clareza... É ter capacidade de se doar... sei não, sei não.
*Jesus nos disse que devemos amar ao próximo como a nós mesmos... mas não nos disse o que é o amor.

2 comentários:

Dai disse...

de inicio acheique era ficção.
mas ei que surge um nome próprio conhecido.

Ana Elisa Freire disse...

esse! aí que medo dessa pergunta já denuncia quem é!!