Querido Papai Noel,
Neste Natal resolvi voltar a te escrever. Não através de uma
cartinha escrita à mão e enfiada numa bota ortopédica que usei durante alguns
anos, mas por um blog, um “diário” mais moderno que escrevo quando aquele nó
aperta muito no peito e na garganta.
É que a coisa por aqui ta preta mesmo. E pra conseguir
realizar os pedidos desse ano, minhas forças não serão suficientes e aqueles
que te substituíram durante anos nem sabem mais o que é isso.
Parece que depois de tantos anos eu me peguei apertando os
olhos e desejando com força alguns presentes, desejando e pedindo pra quem não
sei, pra alguma força, pra alguém que talvez se chame Papai, nem tão Noel, mas
Papai.
Pra começar, eu queria um abraço bem apertado na minha
Vozinha. Tá bom, acho que na verdade esse eu até já ganhei, quando há alguns
dias sonhei com esse abraço, mas foi um sonho tão real que consegui claramente
sentir o cheirinho daquele cabelinho branco tão lindo! Mas a gente nunca se
satisfaz com sonhos dormindo, sempre queremos sonhos acordados.
Depois eu queria poder passar Natal lá num Belo Jardim, é, lá
mesmo onde ta toda a minha família. Essa doida mesmo que eu tenho. Que tem um
irmão chato, sem noção e abusado, mas que é irmão e esteve sempre do meu lado,
mesmo que à pulso. Tem também uma tia que ta ficando é abusada depois de véia,
cheia de manias, e nada cheia de paciência, mas é a tia que ficou no lugar da Vó
e que sempre foi muito mais que qualquer coisa que tenha nome, gritando sempre
Não!, mas dizendo sempre sim por debaixo dos panos, e mostrando a face de um
amor bem diferente dos outros, mas com a grandeza de todos os outros.
Com meu pai, que mesmo tendo sido mais um irmão na maior
parte do tempo, é o responsável por minha existência, por minhas manias, mas
também por esse coração mole que tenho. E é quem me faz querer ser melhor na
vida, e que junto comigo sei que ta tentando construir uma relação bem mais
bonita, saudável e amável do que a que andávamos vivendo nos últimos tempos.
Que da forma dele me faz sentir que estamos juntos nessa luta, essa luta de
vida, pra vida, pela vida e pelo amor.
Com meu denguinho, que ta sentindo até mais que eu a falta
daquela veinha linda que nos ensinou quase tudo da vida e que por isso anda
passando por uma luta diária pela felicidade em meio a tanto fogo que vem de
dentro e de fora. Que chora baixinho, mas que sorri bem alto no meio do fogo
cruzado que a gente coloca ela e aí mete água e apaga tudo. Que mesmo sem saber
falar muito bem o que sente, consegue falar através dos poros tão suados do seu
corpo, e nos faz entender o que ela quer dizer apenas com um olhar. Que enfim,
me deu metade de todo o amor que trago aqui em mim, e que completa e comanda e
encabeça esse quarteto que vive se engalfinhando mas se amando também.
Com meus tios que sempre foram pra mim um exemplo de
companheirismo e dedicação. Que deixaram na minha memória tantos momentos
gostosos, a pastilha que Tio Zezinho trazia na mala, os cuidados de Tia Luísa
quando estive doente ao seu lado, as canastras que sempre sonhei jogar com tio (e
que hoje eu jogo!), s férias que passei com eles no Belo Jardim que todo mundo ta
agora, as risadas que o tio me faz dar até agora e os mimos que a tia também me
dedica até hoje e a força sem tamanho que sempre prova carregar dentro de si.
E com a família divertida que neste Natal ta recebendo todo
mundo em sua casa, que ainda ta no início, mas que junta já faz um barulho
danado, que luta por uma vida melhor e que tem uma energia danada pra viver
tudo que aparece pela frente. Família que é encabeçada por uma prima que eu cresci
vendo e ouvindo as histórias das defesas da minha mãe a seu favor, que eu vi
namorar escondido, encobertei e entreguei suas trapaças e traquinagem. E que
sempre me mostrou esse coração mole que carrega no peito e também como é uma
relação de lealdade, delicadeza e companheirismo entre pai e filha.
E claro, com meu Gordo! Que nem sei mais viver nada sem ele.
Que ta comigo todo tempo, matando todos os dragões que andam aparecendo em
nosso caminho e eu sei que ta sonhando todos os sonhos comigo, assim como
carregando todo o peso de 2012 comigo. E que me ensinou um amor que eu não
conhecia, que vai se espalhando no sangue dos nossos corpos e fica ali todo
dia, toda hora, todo tempo, fazendo a gente ficar em pé toda vez que o vento da
vida nos empurra, sabe?
Eita danosse! Agora que terminei esse pedido posso concluir
que esse é o que toma conta da maior parte do meu coração mesmo! Mas ainda
faltam alguns.
Queria conseguir pagar minhas contas sem atrasar nenhuma, e
que sobrasse só um pouquinho. Juro que é um pouquinho! Só pra eu poder comer
gostoso, dar um mergulho num mar bonito, visitar Glória e Zuquer que tão
fazendo falta. Aproveitar uns fins de semana desse mês que sempre me lembra férias
sempre deliciosas que tive durante todos os anos de minha vida. Não queria
ficar sem trabalhar não! Queria trabalhar sim! Mas poder aproveitar como havia
sonhado durante o ano de batalha que tive. Ao menos alguns dias. Dançar, cantar, encontrar os
amigos, ficar de porre...
Queria que 2012 levasse todo o peso que me fez ver nele e
que em 2013 eu voltasse a ser leve, como fui um dia, que chorasse mais de
felicidade que de outra coisa, e que principalmente tirasse também todo o peso
que venho depositando no homem que tem sido mais do que metade de mim.