segunda-feira, 29 de março de 2010

Com o veneno da serpente.

Me dê uma noite e um pouco da manhã, só preu sacar se os olhos mudam de cor.
Só pra eu saber se eu sou só eu, ou já deixei de ser.
Pra saber se são eles ou as cores que mudam.
Se eu já deixei de ser ou misturei.
Onde será que toda aquela coragem, confiança e força se esconde quando eu me pego assim como agora?
Cá estou eu mais uma vez jogando letras na tela pra ver se elas me ajudam a descobrir, já que aqui na minha caixola elas não estão colaborando muito.
É, acho que o homem não esta adaptado a mudanças. E quando ela vem, parece que tiraram o chão dos seus pés.
Ele também não sabe perder. Não se conforma em ter que perder.
Será mesmo que é o homem? Ou a mulher? Eu?!
Parece que junto com o sangue que perco todo mês, de tempos em tempos, como um filho que nasce, sabe? É, parece que de nove em nove meses, em média, junto com esse sangue perco mais uma porrada de coisas.
Esse mês parece que foi o escolhido.
E a cada dia tenho mais certeza que perdi uma flor, minha flor, e eu também era flor dela.
É, isso foi ruim.
Perdi também toda aquela confiança em mim, sabe? Aquela que me fazia crer que podia tudo. Aquela que vinha junto com minha coragem e certeza.
Mas isso não sei se foi de todo ruim, já que talvez isso me tenha feito encontrar outra coisa que como ainda é talvez, prefiro ficar procurando a certeza.
Perdi também a paciência de esperar o telefone tocar, de esperar o fim de semana pra tomar cerveja e de esperar a digestão se completar pra comer mais chocolate.
Mas aí também não creio na coisa como ruim.
Perdi meu brinco de bolinha e meu cheiro de independência.
Parece que quando perco uma coisa, saio perdendo tantas outras.
Perco a hora do cinema, a hora do banco e a hora de parar.
Parar. Parar.
Quando essa enchurrada que me leva tantas coisas, junto com o sangue vermelho escuro, vai enfim sossegar e deixar que o sol seque minhas roupas, meus cabelos e minha pele. E aí me deixar procurar e encontrar de volta tudo que perdi.
Quando será que eu vou poder ter a certeza de que na verdade me encontrei.
Que na verdade...
Achei.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Caso Pluvioso

A chuva me irritava. Até que um dia
descobri que maria é que chovia.

A chuva era maria. E cada pingo
de maria ensopava o meu domingo.

E meus ossos molhando, me deixava
como terra que a chuva lavra e lava.

Eu era todo barro, sem verdura...
maria, chuvosíssima criatura!

Ela chovia em mim, em cada gesto,
pensamento, desejo, sono, e o resto.

Era chuva fininha e chuva grossa,
matinal e noturna, ativa...Nossa!

Não me chovas, maria, mais que o justo
chuvisco de um momento, apenas susto.

Não me inundes de teu líquido plasma,
não sejas tão aquático fantasma!

Eu lhe dizia em vão - pois que maria
quanto mais eu rogava, mais chovia.

E chuveirando atroz em meu caminho,
o deixava banhado em triste vinho,

que não aquece, pois água de chuva
mosto é de cinza, não de boa uva.

Chuvadeira maria, chuvadonha,
chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha!

Eu lhe gritava: Pára! e ela chovendo,
poças dágua gelada ia tecendo.

Choveu tanto maria em minha casa
que a correnteza forte criou asa

e um rio se formou, ou mar, não sei,
sei apenas que nele me afundei.

E quanto mais as ondas me levavam,
as fontes de maria mais chuvavam,

de sorte que com pouco, e sem recurso,
as coisas se lançaram no seu curso,

e eis o mundo molhado e sovertido
sob aquele sinistro e atro chuvido.

Os seres mais estranhos se juntando
na mesma aquosa pasta iam clamando

contra essa chuva estúpida e mortal
catarata (jamais houve outra igual).

Anti-petendam cânticos se ouviram.
Que nada! As cordas d’água mais deliram,

e maria, torneira desatada,
mais se dilata em sua chuvarada.

Os navios soçobram. Continentes
já submergem com todos os viventes,

e maria chovendo. Eis que a essa altura,
delida e fluida a humana enfibratura,

e a terra não sofrendo tal chuvência,
comoveu-se a Divina Providência,

e Deus, piedoso e enérgico, bradou:
Não chove mais, maria! - e ela parou.

(Carlos Drummond de Andrade)

*A chave do sábado - Análise do texto literário, com Norma Godoy.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Isso não tem a ver com idade não.
É espírito
É vontade.

[Isadora]

terça-feira, 16 de março de 2010

(Comecei jogando a primeira pergunta e pedi pra que ela esquecesse o gravador.)

O que é o amor?
Que medo dessa pergunta! Você já começa assim jogando essa bomba pra mim?! Não sei se sei definir o amor, é uma coisa muito forte e muito complexa pra ser definida, talvez seja o sentimento de... ai Deus do céu, não sei... de dar a vida por alguma coisa, por alguém.

Você tem algum conhecimento sobre os tipos de amor?
Creio que tenho.

Quais?
Amor de amigo, de irmão, de pai, de mãe...

Sem classificações teóricas, certo?.
É.

Quais os tipos de amor você já sentiu?
Amor de pai e mãe. Amor de irmão, por meu irmão, e esse eu acho que é o maior amor...
(Mais do que o de pai e mãe? Talvez, porque quando eu penso na hipótese de meus pais morrem, logo penso, e meu irmão, como ficaria? Por ele eu faria tudo, sabe?)

...amor de amigo e lógico, amor “enamorado” que é o mais complexo pra mim.

Algum já doeu?
Muito. ( E fez aquela cara de: e você sabe o quanto!)

Qual?
O enamorado

(sorrisos, cervejas e mais sorrisos.)

Como era essa dor?
A dor de não ser correspondido.

Mas o que você sentia?
Às vezes raiva, porque eu era capaz de tanto por esse amor e não recebia nada de volta, às vezes muitos ciúmes por saber que o meu amor sentia amor por outras pessoas e às vezes um carinho, um cuidado muito grande.

Essa dor já chegou a ser uma dor física, como a que você me falou sentir no dia na missa de Marina, lembra? E que eu aprendi a perceber depois desse dia. É isso que eu quero saber. Não das coisas a que essa dor te leva. Porque você falou de raiva, ciúmes, mas aí acredito que já são as conseqüências a que essa dor te levou.
Ah, dói, dói muito. Dói, aperta. É uma bala de raspão que passa pelo coração que não penetra, mas fere muito, sabe?

E qual foi o melhor amor de sentir?
O amor de amigo. O amor pelos meus amigos é o que me deixa mais feliz.

É!? (fiquei surpresa, porque pra mim tudo de bom que venho vivendo com AMIGOS é ainda muito novo, antes só com os “amigos” eu me sentia sozinha. Essa distinção na grafia da palavra amigo, faço de acordo com a classificação para as amizades que considero verdadeiras.)
É.

E qual foi o melhor momento que o amor já lhe proporcionou? Qual a coisa mais importante que o sentimento que você toma por amor já lhe proporcionou?
Isso é difícil, menina, sei não. Eu tenho muitos momentos. Os momentos com os meus amigos. Aqueles momentos, mesmo, que tu fica bem tabacuda dizendo “ah, isso é tão lindo”. Tem também os momentos com meu irmão e com minha mãe, com a minha família eu fico muito, muito, muito feliz, pelo amor que a gente tem um pelo outro, mas ainda não existe um único momento.
(entre um gole e outro ela pensa e continua)
Eu não posso dizer que foi o nascimento do meu irmão, porque eu tava morrendo de ciúmes e não fui capaz de sentir outra coisa e pensava, Isaac nasceu. Grande coisa!
Ah, talvez tenha sido num dia em que o segurei pela primeira vez enquanto minha mãe tomava banho. Ele tinha uns dois meses, talvez. Ele era bem molinho, bem pequenininho, e eu fiquei um tempão segurando, sem saber segurar, toda dura e ele dormindo. Aí eu achei a coisa mais linda e então comecei a ficar mais molinha.
Mas mesmo assim eu ainda não sei se foi O momento, continuo achando que ainda não houve, sabe?

(-Rossi, mais uma, por favor.)

Me diz então como o amor seria se fosse uma obra arquitetônica. (acredito que todo mundo tem um amor por alguma coisa, não por outro ser humano, por que aí surgem muitos tipos, mas por outra coisa, talvez um amor “concreto”, e eu acho que esse é o seu, a arquitetura.)
É bem verdade. Mas tem que ser uma obra, ou pode ser um conjunto de obras?
Como quiser, fique a vontade.
Hum! Museu dos judeus, em Berlim! Acho, do caralho um arquiteto conseguir ter uma compaixão, um amor, por uma cultura, por um povo tão grande, e expressar tudo isso na arquitetura de uma forma tão intensa.
(lembra e descreve o lugar) São corredores... é um lugar altamente claustrofóbico, que faz você se sentir mal. Mas essa é exatamente a intenção do lugar. Fazer você se sentir como eles (os judeus) se sentiram na época da segunda guerra. Existem corredores que saem vigas, umas coisas em sua direção, como se fossem lhe agredir. Tem uma câmara que é completamente escura. Você entra e fica completamente no escuro, completamente desolado. Também um quarto onde o pé direito é bem alto, e você vê uma luz. É uma coisa fora do normal! Eu acho foda isso, sabe? De a arquitetura poder trazer pra você sensações que você não sabe nem que é ela que tá lhe trazendo isso, mas é ela sim!
E foi o amor daquele arquiteto judeu, pela cultura dele, que o permitiu conseguir conceber uma obra daquela magnitude. Nenhum outro arquiteto conseguiria fazer isso. Você tem que ter muito amor por uma coisa que você acredita, pra poder conseguir fazer uma coisa daquelas. Pra fazer com que outras pessoas, que não tem o mesmo amor que você tem por aquilo, sentirem o mesmo.
É muito foda! Eu sou louca pra conhecer, porque fotos eu já tenho mil . Mas preciso entrar, pegar, sentir, experimentar a arquitetura. Porque arquitetura pra mim é isso.

(pausa. Cervejas, petiscos, cervejas...)

E aí, você está gostando de falar sobre o amor?
Sim. Sou tão cheia de teoria que estou gostando.

Já fez isso antes?
Não.

(Falamos um pouco sobre o que acreditamos ser a coisa mais importante e ela falou que apesar de ser bem clichê, acredita que seja mesmo o amor. Fala novamente sobre o amor que têm pelos amigos, pela profissão, sobre as relações de amizades que seus pais não tem, e que por isso o veem como uma boa amiga. E pra terminar, volto ao começo.)

E então, o que é o amor?
De todas, essa continua sendo a pergunta mais difícil, porque continuo sem saber definir com clareza... É ter capacidade de se doar... sei não, sei não.
*Jesus nos disse que devemos amar ao próximo como a nós mesmos... mas não nos disse o que é o amor.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Hoje de manhã

Ela estava onde eu não pudia imaginar.
Lá na porta branca e fechada.
Fechada não se sabe por quanto tempo.
Esta era branca e o verde daquela era quase o mesmo verde da caneta que escrevo agora essas loucuras.
Era quase da cor do sorriso que vi no meu rosto no espelho do banheiro do teu irmão, naquele dia.
Mas ela tava lá, pisando com cautela, sentindo e observando tudo com a calma e paciência que só a esperança tem. Pisando e apoiando seus pés miudinhos naquela superfície branca e cheia de armadilhas que poderiam inutilizar seus sentidos caso eles falhassem.
Ela tava lá e nem me dava bola. Ou será que me olhava? Que estava ali por mim, pra mim?
Eu precisava dela. Precisava que ela comesse as folhas, os caules, as flores e destruísse até as raízes do jardim que tu me deste e que eu ainda insisto em cultivar.
Preciva que ela destruísse tudo e morasse sozinha lá naquele lugar, aquele lugar que era teu e meu.
Resolvi tocar nela pra ver se ela me olhava e eu a convidaria pra morar em mim, mas ela voou. Olhei e vi que ela ainda estava perto de mim.
Mas perdi a coragem, e fui embora.

sábado, 6 de março de 2010

Ciclos

Reflexões, ausências, pressentimentos. Foi enxugando meu rosto após o banho (às 2h39), que percebi que isso faz parte do fechamento de um ciclo. Fechamento, encerramento, mudança de rotina, de pensamentos, certezas. E no final, de como lidar e ver o amor. Afinal, se não tivesse o amor aí metido no meio, não me interessaria.
Não, eu não estou doente. Mas bem que gostaria de estar. Doente de amor. Sim, aí sim, gostaria. Talvez o melhor a fazer agora, seja voltar a focar minhas energias ao meu novo-velho projeto de falar, falar e falar sobre essa coisa, pra tentar entender, e no final, essa busca na verdade poderá resultar no entendimento do meu eu, já que o que corre em minhas veias, em meu pensamento, o que inspiro, expiro e transpiro é o amor.
Sinto que preciso agora tentar diferenciar seus tipos, e descobrir a doçura que há em cada um, e deleitar-me ao encontrar o prazer que cada um deles pode me trazer. Acredito que não seja culpa exclusiva minha, essa necessidade absurda que sinto de pensar, sentir, querer e ter alguém. Essa coisa que me faz preferir estar, sentir e ter alguém, a estar alegre, feliz, como as pessoas costumam dizer.
Talvez o que eu esteja precisando, seja do meu próprio olhar. Acho que passei tempo demais preocupada em conquistar os outros olhares, que esqueci de eu mesmo olhar pra mim.
Isso. Achei a chave! Sinto que preciso começar um novo ciclo, e esse tem a mim como centro, quero me acompanhar ao cinema, ao teatro. Vou me convidar pra tomar uma cerveja. As pessoas costumam estranhar quando veem alguém “sozinho” num bar, num cinema, num teatro. Mas elas não enxergam que não estão sozinhos aqueles lá, mas sim um outro alguém que está sentado em outra mesa com muitas, várias pessoas. Lá vou eu de novo fugindo de mim, e pensando nos outros, no outro, no externo.
Não que eu queria me tornar uma suplente a autista. Não! O que sinto que preciso, é me cuidar, me amar, me apaixonar, me fazer sentir as sensações que até agora desejei tanto que os outros me trouxessem, me fizessem sentir. Na verdade, antes talvez eu não houvesse parado pra pensar que o outro já me trouxe tudo o que desejei. Amor, paixão, ternura, carinho, atenção, mas agora eu preciso me dar tudo isso, tudo isso do jeito que eu sempre achei que os outros não conseguiram me dar. (E esse vão que apareceu na frase anterior, entre o que eu quero e o que já recebi, aconteceu exatamente porque tudo o que eu sempre quis dos outros foi muito mais do que essas nomenclaturas podem exprimir e talvez por isso nunca recebi.) Talvez assim eu possa descobrir que não existe o que eu quero, ou se existe, mostrando a mim mesma, possa perceber que não é absurdo. Que o absurdo é só o que eu quero, é tudo o que eu quero e preciso.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Deixa eu te falar.

Vejo por aí as pessoas conseguirem tanta coisa se escondendo, se controlando, se privando. Por que tem que ser assim? Por que as pessoas se assustam quando se deparam com a verdade, com a sinceridade, a transparência?
A transparência de pensamentos, sentimentos, vontades.
Se quero, procuro, vou onde quer que seja, quando for, onde for, como for. Vou e pronto.
Pra que negar quando se tem vontade? Por que as pessoas colocam objetos e planos na frente dos sentimentos? Tudo acaba, vai embora, se esvai. Tudo. Ou melhor, quase tudo. Quase tudo porque o que for de verdade e carregado aqui dentro dessa coisa que chamam de coração, essas coisas não vão não, elas ficam e ficam pra sempre.
Quero levar toda a bagagem e o que mais estiver a mão. Quero poder dizer e expressar tudo o que sinto. Não quero mais me privar disso.
Não! Não quero ser mais uma das/os que seguem a regra de que é preciso endossar o café pra ele ficar gostoso. Quero poder saborear o amargo, o doce, o salgado.
Quero gritar, parecer louca, boba, ingênua, burra (pra alguns), tola... Quero me mostrar por inteira, sem esconder nem mesmo minha boca que fica gigante quando acordo, nem minha barriga quando saio do rodízio de sushi, massas, ou o que quer que seja, minhas lágrimas quando sinto cólicas ou gritam comigo e todo o amor que quero dar.
Quero me mostrar e ver, quero ver além da carne, além do corpo, além do que me mostras e do que podes ver. Quero ter e pertencer.

Amor? Alô? Alguém ai?
Ah, desculpa! Foi engano.